domingo, 23 de setembro de 2012

Não vai passar...

— Sabe o que é bom nos corações partidos? — Perguntou a bibliotecária.
Neguei.
 — É que só podem se partir de verdade uma vez. O resto são apenas arranhões.
                                                                                       O Jogo do Anjo
 
 
Lembra quando você caia e sua mãe dizia para não se preocupar que iria passar? Ou quando você chegou em casa chorando porque aquela sua paquera da escola estava dando bola para outra? Pois é, tudo isso vai passar. E passa mesmo, depois de um tempo você nem lembra mais que um dia sofreu por isso. Ou melhor, até lembra e sente uma certa vergonha.
Com o tempo a gente vai aprendendo e descobre por quais pessoas e sentimentos vale a pena entrar no fogo. É claro que o que parece certo em um dia, pode desmoronar no outro; mas a maturidade ensina muito, e os tombos do passado já não doem tanto e o que fica é o aprendizado.
O tempo é aliado, mas também é um problema. Do mesmo modo que ele te ajuda a aprender e a superar, ele também te cansa. Com o tempo você vai descobrindo que nem sempre “vai passar”, porque chega uma hora que você mesmo não quer que passe.
Chega uma hora que você fica cansado de tentar e começa a perceber que se as coisas deram errado, mais uma vez, só há uma explicação. O fato é que, nem sempre o problema são os outros. O problema, de vez em quando, pode ser a gente.
Uma hora você cansa de levantar, cansa de tentar, cansa de se curar. Decide que é hora de ficar ali, com o joelho ralado, no chão. Vai ser muito melhor do que levantar e partir de novo para a luta; você sabe que vai cair de novo e não vai aguentar a queda.
Assim funciona também pros corações partidos. Eles suportam mais do que deveriam, e a culpa é toda nossa. Ficamos com esse pensamento tolo de “só mais essa vez, tenho certeza de que vai ser diferente”. Ah, quanto egoísmo com esse pobre músculo pulsante.
E igual das outras vezes, você gasta tempo, dedicação e faz de tudo para ajudar. E o que recebe em troca? Absolutamente nada; ou melhor, ganha sim, um monte de disparates no meio da cara, que fazem você parecer o animal mais imundo, baixo e desprezível da face da terra.
Mais uma vez é igual; o mesmo final se repete. E você começa a se achar culpado disso tudo: como não achar, não é? Te pintam tanto como monstro, colocam essa ideia na sua mente que você começa a acreditar. E se eu for mesmo assim; se eu for mesmo a errada, sempre, o tempo todo? Acho que nasci assim... e quem garante que não?
E quando você pensa que vai passar que consegue virar a página (mais uma vez, são tantas que até perdeu a conta), mais coisas começam a aparecer; o que te faz sentir mais culpada ainda. Pois é, dessa vez não vai passar; você não quer que passe, e quem pode te culpar por isso?
Não, não vai passar. Não dessa vez; o estrago foi maior e você está cansada. Nem tudo passa e é normal. Anda difícil viver nesse mundo, onde as pessoas são tão egoístas que só sabem forçar as suas vontades como se o outro não existisse.
De pessoas que não se importam em saber se você está vivo, morto, bem, mal; não querem dividir a vida, querem apenas jogar seus problemas nos nossos ombros para que a gente resolva. Depois que a vida deles melhora, fica fácil jogar a gente no lixo; pior ainda, fazer com que a culpa seja toda nossa.

É... não vai passar... não dessa vez...

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